Há medida que mais uma gota de suor, provavelmente a milionésima de hoje, me escorre pelo peito, apercebo-me que hoje ainda não sai de casa. Passar o Verão em Portugal é isto. Suar, suar e suar. Feder, permanentemente. E suar mais. Parece que pela minha Pátria adoptiva as coisas não são muito mais frescas, e, coitados, nem têm o mar para dar uns mergulhos e arrefecer. Mas a diferença, a abismal diferença, é a variedade. Enquanto que no meu país de origem existem dois sabores, o quente e o frio, na República Checa há quatro variantes: Outono, Inverno, Primavera, Verão. Vá, deixem-se de brincadeiras, eu sei que em Portugal também os há. O problema é que isso é só no papel. Na realidade, um dia um gajo está a gelar nestas casas portuguesas que não foram construidas para lidar com qualquer frio abaixo dos 20 graus, e na semana seguinte está a suar as estopinhas. E um e outro ciclo arrastam-se por seis longos meses.

Já na Europa Central, as quatro realidades climáticas estão lá. No Outono tem-se uma paisagem e umas características climáticas bem claras, que inspiram um determinado estilo de vida. E quando o Inverno chega, tudo muda… e quando a Primavera chega, há alterações efectivas, e, finalmente, ao chegar ao Verão não restam dúvidas, passou-se de Estação. E tudo isto é precioso, porque a alminha humana precisa da côr das Estações, da variedade no clima, para não chegar a enjoar, coisa que cronicamente me acontecia em Portugal e ainda sucede, porque do Verão no forno ninguém me safa. E não pense o leitor que isto é uma mariquice, um assunto de quem não tem mais nada que fazer nem ideias para escrever. Nada disso. É mesmo importante na vida d’um gajo. É que isto não é só anotar temperaturas e resmungar que está calor, ou está frio, ou está a chover. Em Praga, tudo muda, sensivelmente de três em três meses. O que as pessoas fazem, os humores colectivos que se sentem no ar, a paisagem… enfim… a alma da cidade renova-se quatro vezes por ano, e ninguém poderá dizer que um sítio que renasce assim não é profundamente fresco.

P.S. – E sabem que mais? Assim como assim, nunca sinto tanto frio no Inverno checo, com as suas temperaturas a irem a pique aos 20 negativos, do que com os nossos mixurucas 2 graus. A sério… e não é milagre. Ora pensem lá nisso……

Ricardo Ribeiro viveu durante três anos em Praga, apenas pelo amor à cidade e um dia decidiu criar um website dedicado à sua paixão. Actualmente mantém os fortes laços emocionais e sociais com Praga e passa alguns meses por ano por lá.

1 Comentário

  1. Antes de mais, muitos parabéns pelo blog, tem-me dado muito gosto em lê-lo. Eu só por uma vez fui a Praga mas posso dizer que fiquei maravilhado. Gostava de me mudar para lá um dia, se bem que gostava de viver noutros sítios pelo meio.
    Sempre que falo com alguém sobre o porquê de querer sair de Lisboa e ir para outros lados, lá vem a história de “ai lá vai estar frio, não vais aguentar”(por acaso os sítios onde eu gostaria de viver são mais frios que Lisboa), o que me põe sempre um sorriso na cara, porque, entre muitas outras coisas, só haver, praticamente, 2 estações dá cabo de mim. No Verão lá temos que levar com os trintas e quarentas, até que finalmente chega a chuva, mas que dura pouco, até que chegam uns dias em que tem de se deixar as camisolas em casa porque vem o sol e começa a ficar abafado. Gostava bastante de sentir as estações a mudarem verdadeiramente.

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