“As consequências da batalha de Bila Hora ficaram duramente marcadas na memória colectiva checa até aos dias de hoje.”

Eu sei que esta sugestão é apenas para alguns que, como eu, apreciam visitar locais onde um dia algo de decisivo sucedeu, mesmo que hoje nada mais que um simples marco o indique. Para desfrutar deste local é preciso ter a capacidade de fechar os olhos e viajar no tempo, sentindo o cheiro nauseabundo de um exército em posição de batalha, de ouvir o relinchar nervoso dos cavalos que sentem a aproximação do perigo, de sentir a tensão no ar, o medo que paira sobre os campos… foi aqui que…

A 8 de Novembro de 1620 deu-se uma das primeiras grandes batalhas da Guerra dos Trinta Anos. O conflito envolvia interesses mais vastos, mas para os checos o momento era de extrema gravidade. Estava em jogo a possível autonomia da Boémia, há tanto tempo perdida. A insurreição tinha rebentado há um ano atrás. Das janelas do Castelo de Praga tinham sido atirados dois conselheiros fieis ao imperador, naquilo que ficou conhecido como a “primeira defenestração de Praga”.

Perdidos na complexa teia política da Europa Central, os boémios acreditaram que havia esperança, sobretudo depois do impasse alcançado nas primeiras confrontações militares. Mas quando por fim as forças do império Habsburgo decidiram movimentar-se em direcção a Praga, a derrota veio ensombrar o sonho boémio e enterrou por mais trezentos anos as legítimas aspirações deste povo. E foi neste preciso local que tudo aconteceu: Bila Hora, ou, tradução feita, Montanha Branca.

O comandante do exército Boémio, Cristiano de Anhalt, colocou as suas forças na encosta desta colina. Eram cerca de 15 mil homens, na sua maioria mercenários, não só boémios mas também alemães, húngaros, austríacos. A artilharia foi posicionada, logo à frente dos cinco mil cavaleiros ao dispor de Anhalt. Era uma posição bem escolhida, com os flancos protegidos: do lado direito, um pequeno castelo, do lado esquerdo um pequeno curso de água. E ali bloqueava o acesso a Praga ao exército que se aproximava.

Do outro lado, Johann Tserclaes, conde de Tilly, observou cuidadosamente a disposição de tropas do seu oponente. Atrás de si alinhavam-se 27 mil homens, incluindo soldados espanhóis e holandeses. Decidiu tomar a ponte que cruzava o pequeno rio, e os seus bem treinados combatentes executaram com destreza a tarefa. Para surpresa geral, os experientes mercenários de Jindrich Matyas Thurn começaram a debandar, causando uma reacção de pânico em cadeia.

Uma carga de cavalaria liderada pelo próprio Cristiano de Anhalt conseguiu por breves instantes reequilibrar a situação, mas sem apoio, o contra-ataque perdeu o fulgor e os cavaleiros sofreram pesadas baixas. Depois de apenas duas horas de intenso combate, o destino da batalha ficou decidido. Os boémios deixaram caídos no campo de batalha cinco mil homens, enquanto o exército invasor sofreu “apenas” duas mil baixas mortais.

As consequências da batalha de Bila Hora ficaram duramente marcadas na memória colectiva checa até aos dias de hoje. A historiografia checa refere-se ao período que se seguiu como “doba temna” – a época das trevas. No ano seguinte, os vinte e sete lideres da revolta foram executados. As condições de vida do homem comum tornaram-se extremamente penosas, devido às terríveis represálias sofridas.

Actualmente é um descampado, relativamente vasto, com um memorial no centro. Tudo isto ladeado de um pequeno bairro de modestas vivendas. Se é do género explorador, pode atravessar o campo de batalha e encontrar passagem entre as casas, até ao bosque transformado em parque que se encontra a nordeste. A floresta é lindíssima e lá encontrará o pequeno castelo mencionado no texto, que protegeu o flanco do exército boémio, chamado Letohrad Hvezda.

Mais informações sobre a batalha de Bila Hora, na Wikipedia, em inglês.

Como ir: Deverá apanhar o eléctrico 22, o mais turístico de todos, que vem da outra extremidade da cidade, passa ao centro, e depois junto ao Castelo de Praga. As boas notícias é que Bila Hora é a última paragem, não tem possibilidade de se enganar. Ao sair do eléctrico, ande umas poucas dezenas de metro, aprecie o mosteiro que se lhe apresenta do seu lado direito e continue a andar. Após 100 metros, vire na Répska. Se não vir indicação do nome da rua, não há problema: é a primeira à direita depois do mosteiro. E pronto. A partir daí é só caminhar 130m até ao fim dessa rua, e estará na orla do espaço da batalha.

Ricardo Ribeiro viveu durante três anos em Praga, apenas pelo amor à cidade e um dia decidiu criar um website dedicado à sua paixão. Actualmente mantém os fortes laços emocionais e sociais com Praga e passa alguns meses por ano por lá.

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