Em Portugal não existe uma cultura de chá. Uma observação atenta nas ruas das principais cidades do país revelará uns quantos “salões de chá”, herança bacoca de outros tempos, em que ingleses traziam usos e costumes como sendo os da moda. Estava-se no século XIX e a exposição da sociedade portuguesa a estas influências atingia o seu zénite. Mas a verdade é que o chá não pegou. Hoje, esses “salões de chá” pouco mais são do que pastelarias com aspirações a uma classe perdida, onde se pode de facto pedir um chá… tal como em qualquer café.
Mas em Praga existe de facto um culto do chá. Claro que não se aproxima da paixão nacional pela cerveja e mesmo o interesse pelo café bate-o por uma certa margem. Mas existe. E para nós é uma agradável pedrada no charco. Porque se mantemos as nossas cervejarias e cafés, não existe em Portugal nada que se pareça com a “čajovna”, a verdadeira casa de chá checa. Espalhadas pela cidade, quem sabe quantas existirão. Se me forçassem a atirar um número para o ar, falaria em 30 ou 40.
Perante esta realidade, decidi trazer até vós, para começar, uma das mais interessantes casas de chá de Praga: a Dobra Čajovna (ou seja, a Boa Casa de Chá, sendo que Čaj significa chá e se lê quase como se pronuncia a palavra em português: txai).
O estabelecimento de que hoje aqui falamos, sito na praça Venceslau, faz parte de uma rede em “franchising”, sendo um dos dois existentes na cidade de Praga, contando-se cerca de vinte e cinco espalhados pelo país. Como talvez saiba já, esta praça é um dos centros da capital checa. É na realidade uma alameda, alongando-se por cerca de 800 metros. O Dobra Čajovna encontra-se num discreto pátio, do lado direito de quem sobe, sendo necessária toda a concentração para dar com o local sem percalços. Talvez resida neste carácter tímido a magia da primeira impressão do visitante. Subitamente salvo da azáfama por vezes doentia da praça Venceslau, dará consigo num recanto de sossego e calma, como que numa passagem de ilusionismo. No Verão, a esplanada poderá servir desde logo. A mim encanta-me, esta influência dos espaços intimistas que se vulgarizaram noutras cidades europeias e norte-americanas, como Viena ou Nova Iorque. Mas se não quiser ou não puder gozar do espaço ao ar livre, entre.
No interior da Dobra Čajovna encontrará uma série de salas, com dimensões e estilos algo variáveis, tendo em comum a calma que se espera usufruir num local destinado ao consumo desta requintada bebida. Aviso desde já que não é simples encontrar uma mesa ou um canto vagos. Se falhar na primeira tentativa, poderá sempre reservar para mais tarde ou para o dia seguinte. Porque se aprecia chá, vale mesmo a pena.
Se o leitor não está habituado a estas andanças, presto um esclarecimento adicional. Que me perdoem os outros, que tomam tal como certo: numa verdadeira casa de chá seria escandalosa a existência de infusões de saco. Todo o chá sugerido provém de castas mais ou menos raras, importadas do misterioso Oriente ou de onde quer que cresçam plantas adequadas à infusão. O pessoal que aqui trabalha é simplesmente fanático por chá. Provavelmente não existe uma espécie à superfície da Terra que não seja deles conhecida. Recordo-me do entusiasmo que causou uma embalagem de chá Gorreana dos Açores que trouxe para oferecer ao pessoal: que sim, conheciam, mas apenas de nome… que não tinham tido a oportunidade de experimentar, e daí o entusiasmo quase pueril. E com mais um sorriso foram-se, preparar com excitação um cházinho português (deu-se a tolerância, visto que este se trata de um chá apresentado em saquinhos).
Note que para além de poder deliciar-se no local, o amante desta bebida terá hipótese de levar consigo para posterior consumo não só uma embalagem das deliciosas ervas ou folhas secas, mas também alguns objectos da parafernália relacionada com o cerimonial da preparação e consumo de chá.
Os preços praticados não são simpáticos. Nem nos chás nem nos petiscos – todos deliciosos – que constam do menu. As sandes de pão de pita são soberbas, com combinações espantosas de ingredientes, todos de elevada qualidade. O orçamento diário do visitante é que poderá sofrer um pequeno rombo mas a verdade é que um dia não são dias, e recomendo vivamente esta experiência, pelo menos uma vez.
Como Ir: No coração da cidade. Basta procurar na morada indicada.
Quanto Custa: Algo carote para chá. Prepare uns 5 ou 7 Eur, entre o chá e qualquer coisinha mais.
Quando Ir: Qualquer altura é boa, mas procure as horas de expediente, quando as probabilidades de arranjar um cantinho para si se elevam. Aberto entre as 10:00 e as 21:30, e aos fins-de-semana entre as 14:00 e 21:30.
Contactos: Dobra Čajovna Václavské Náměstí 14, – Praga 1 Telefone +420 224 231 480 – Website www.tea.cz/cajovna