Quando o Homem se movimenta, os seus procura. É assim em Praga, e em qualquer local onde exista uma comunidade internacional numerosa. Mas a ideia de muitos, quando deixam os seus países de origem para trás, não é procurarem compatriotas para sustentar a nova rede social que se adivinha. “Para isso ficava lá”, é o pensamento por vezes verbalizado. Então o que se passa a seguir? Acaba-se por se procurar um lugar no círculo de outros párias, cidadãos do mundo, que escolheram Praga para passar estes dias, meses ou anos das suas vidas.
A experiência ganha assim um reforço de monta. Já não é só viver uma nova sociedade, sentir um povo diferente, uma cultura distinta. Com as devidas proporções, o contacto com a entidade Checa é complementado com um mosaico de nacionalidades. As informações chovem, a aprendizagem é permanente. A cada serão em redor de umas cervejas vai-se absorvendo todas estas vivências. E dou por mim rodeado por gentes de paragens distantes: russos, ucranianos, suecos, franceses, indianos, tadjiques, azerbeijanis, gregos, norte-americanos… e a lista continua, demasiado extensa para uma apresentação exaustiva.
Mas a riqueza de tal círculo social tem um preço: a sua fragilidade. Porque uns chegam, e outros partem. Em poucos meses as faces em redor da mesa mudam, e muito. E quando chega a hora dos nossos amigos mais chegados, mexe conosco. Uns, voltam a ser encontrados. Ou porque regressam, ou porque nos visitam. Ou talvez porque esbarramos em qualquer outra paragem do mundo. Outros serão uma imagem crescentemente difusa da nossa memória.
Hoje foi um destes dias, em que se diz “adeus”, ou mais provavelmente “até breve”. Derek é um “old timer” destas andanças de Praga e partiu para o seu Canadá. O plano diz que será por uns quantos meses apenas, até depois do Inverno, mas nestas coisas nunca se sabe. Como manda a tradição, houve “meeting”, e foi dos bons. O local foi o U Sadu. Isto apenas para que conste nos registos. O que interessa é que o Derek, companheiro de tantas farras e aventuras se foi.