Globe

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O Globe foi um dos meus primeiros amores em Praga. Encontrado na última noite na cidade, de imediato me encantou, com o seu conceito versátil, nada habitual em Portugal. Numa primeira sala encontra-se a livraria, que comercializa livros e revistas em inglês. Depois, no corredor, encontram-se computadores para aceder à Internet, e por fim, um salão com mesas complementado por uma mezanine.

Na altura fiquei fascinado pela conjugação de conceitos. Em 2005 ainda não era comum o acesso Wi-Fi à Internet, e a possibilidade de poder ligar o meu computador em qualquer mesa enquanto tomava uma bebida deslumbrou-me. Claro que hoje, com a vulgarização da net sem fios, oferecida a troco de nada em quase todos os cafés, restaurantes e bares da cidade, o Globe já não oferece o mesmo encanto. Mas mesmo assim é um local interessante, até porque tem uma história: após a queda do regime comunista, em 1989, uma multidão de americanos invadiu o país, atraídos pelo romantismo de uma Europa virgem e pelas inúmeras possibilidades profissionais que aqui se começavam a configurar. Para os americanos Praga foi, e de certa forma ainda o é, o que Paris representou no período entre guerras. Um destino ideal, cheio de misticismo, tentador. Uma promessa de aventura, de uma vida diferente. Ora sucede que o Globe foi o primeiro porto de abrigo para esta comunidade que começava a formar-se. No início dos anos 90 Praga era uma cidade bem diferente. Os checos não estavam então habituados a estrangeiros, e a realidade do dia a dia era ainda a que tinha pautado a vida destas gentes nos 20 ou 30 anos transatos. E sabia bem a esses ocidentais que se estabeleciam ter um local de encontro. E isso, foi o Globe.

De volta aos dias de hoje, poderá visitar este local para uma bebida ou uma refeição ligeira. Por vezes há eventos culturais, sempre anunciados no website oficial. Aos Domingos, depois das 20:00, costuma ser exibido um filme. De resto, o espaço é utilizado para expor arte, e a actuação de músicos ao vivo é comum.

Muito popular é o serviço de “brunch”, na qual o Globe se tem vindo a especializar, com ofertas dinâmicas a cada Domingo.

Mas nem tudo são rosas por aqui. A actual gerência tem explorado o poder de compra do público, eminentemente anglo-saxónico, disposto a pagar algo mais semelhante à prática dos seus países de origem para encontrar um ambiente controlado. Enfim, é como estar em casa no estrangeiro. É um pouco o espírito gregário português, de formação de comunidades onde quer que se encontrem uns quantos lusos. E isso, torna também o Globe um local algo inóspito. Não irei ao ponto de dizer que existe uma política de racismo em vigor, mas quem não for anglo-saxónico ou física e culturalmente bastante próximo, poderá sentir alguns olhares estranhos enquanto estiver sentado no Globe.

Na realidade já não frequento o local, mas decidi mesmo assim publicar este artigo, em honra de tempos passados e da história que o envolve.

Como Ir: A Pstrossova é uma rua paralela ao rio. Algures entre o Teatro Nacional e a Casa Dançante.

Quanto Custa:  Demasiado, mas um dia não são dias. Não se assuste, é apenas um pouco acima da média.

Quando Ir: Entre as 9:30 e as 00:00.

Contactos: Globe Bookstore & Cafe, Pstrossova 6, 110 00 Praha 1 – Telefone +420 224 934 203 – Website www.globebookstore.cz

Ricardo Ribeiro viveu durante três anos em Praga, apenas pelo amor à cidade e um dia decidiu criar um website dedicado à sua paixão. Actualmente mantém os fortes laços emocionais e sociais com Praga e passa alguns meses por ano por lá.

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