Com mais um fim-de-semana a aproximar-se, dei por mim desafiado pelo bom amigo Clabbe, o gigante sueco, para um dia fora da grande cidade. Seria Sábado, e o destino ficava a debate. Falou-se em Plzen (Pilsener), mas a escolha acabou por incidir sobre Hradec Králové, uma pequena cidade com uma grande História, a cerca de 50 km a Oeste de Praga. Para a festa se animar, juntou-se um grupo mais alargado de amigos internacionais (uma checa, uma azerbeijani, um francês e dois belgas, a juntar ao português e ao sueco) e foram comprados os bilhetes de autocarro.
Acordar e sair para as ruas de Praga às oito da manhã de um Sábado oferece sempre um espectáculo curioso. Numa normal cidade portuguesa, as pessoas que por ai andam a tais horas são basicamente almas que se arrastam para um local de trabalho indesejado. Já aqui, para além desses, que se tornam uma minoria, sa carruagens de metro e os eléctricos enchem-se de checos que vão para o campo. Caminhada, ciclismo ou esqui não importa. Nem os muitos graus negativos. De todas as idades e géneros, ai vão eles, ávidos do contacto com a natureza, do exercício físico. Uma diferença substancial para o cenário português, onde o desporto é de sofá e o contacto é mais com o centro comercial. Nota avulsa, para corolar este apontamento: e que tal uma freira, vestida como tal, viajando no metro com o equipamento completo para um dia de esqui nas montanhas e mochila às costas. Pois é… parece brincadeira mas não é. Foi com essa visão que me despedi de Praga.
Viajar na Students Agency desperta sempre curiosidade. Como é que uma empresa consegue expedir um autocarro por hora para uma cidadezinha como Hradec Králové, equipado com televisões, internet sem fios gratuita, serviço de hospedeira, venda de snacks e bebidas a preços simbólicos (mais reduzidos do que no hipermercado)… e tudo isto por cerca de 2 Euros…?
O dia passou-se bem. O frio, a rondar os oito graus negativos, mordeu um pouco a pele, sobretudo nas pernas e mãos, mas não impediu a plácida exploração das ruas da cidade. O rio que a cruza foi encontrado completamente congelado, em sintonia com o branco omnipresente que pautava a manhã gelada. Mais tarde, com a aproximação do meio-dia, o sol começou a romper, e a tarde desenrolou-se solarenga, mas sempre com temperaturas baixas.
Apesar do interesse de Hradec Králové, hoje uma cidade com uma forte componente universitária, não será o meu primeiro conselho para uma visita fora de Praga. Na verdade, após a primeira excitação, a monotonia das cidades de província checas tem-se vindo a confirmar. Ao contrário do que sucede em Portugal, que sendo um país homogéneo oferece variedade cultural distntinta, na República Checa as coisas não se revestem de grandes variações. A gastronomia mantém-se basicamente estabelecida em redor dos mesmos pratos e as cidades acabam por parecer todas iguais. Existe um centro histórico, cujo apogeu é atingido na praça central. Esta, é sempre muito colorida, bastante atractiva para o estrangeiro que está de passagem. Mas em pouco ou nada difere da praça da cidade vizinha… ou de qualquer outra no outro extremo do país.
Seja como for, estas cidades históricas da República Checa oferecem múltiplos detalhes que não passarão despercebidos aos mais atentos, fazendo as delícias dos fotógrafos amadores. Num dia como o de hoje, a neve e o gelo não poderia deixar de marcar a visita. A nota mágica que o manto branco traz a uma cidade tem um reverso da medalha, e não é só ao nível do conforto pessoal: a monotonia ganha um outro significado, com a predominância da côr alba, que parece sugar a riqueza cromática que noutras alturas se pode observar livremente.
Um dos pontos altos do percurso surgiu com a visita exterior à igreja carpatiana (nem sei se existe esta palavra, mas pronto, refiro-me a uma igreja da região dos Cárpatos – não vá o leitor pensar que acabei de criar mais uma Igreja paralela). Já tinha visto uma assim em Praga, perdida nos jardins Kinsky. Mas a de Hradec Králové é maior e está em melhor estado de conservação, tornando-se mais majestosa.
O almoço decorreu sem glória, num restaurantezinho simpático mas de comida pouco inspirada, a preços nada provincianos. Bebeu-se cerveja Ferdinand, produzida em Nachod, já não muito longe daqui, junto à fronteira com a Polónia. E o goulash… mau. Mesmo assim, feitas as contas, esta foi uma jornada económica: viagem e almoço, que mais despesas não se tiveram, ficaram por cerca de 8 Euros.
E assim se passou o dia. Se inicialmente senti alguma apreensão pelo número de horas disponíveis para explorar a cidade, a verdade é que acabou por saber a pouco. Faltou tempo para inspecionar devidamente as ruazinhas do centro histórico, que prometiam encontrar-se pejadas de motivos fotogénicos. Teve que ficar para uma outra oportunidade… que provavelmente não passará do plano teórico.